Aquele que procura faíscas...

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Aquele Cara




Entrei no banheiro. Sentamos do lado de fora. Estava calor, então pedimos cerveja. A que estivesse mais gelada. O garçon trouxe copos e um cardápio. Era bem velho. Agradecemos com carinho, automaticamente. Minha amiga frequentava o lugar e éramos sempre bem servidas. Nesse momento vimos Aquele Cara do outro lado da rua. Fazia tempo que não o via. O telefone vibrou bem na hora e foi bom para disfarçar. Deu um frio na barriga, mas logo passou. Ela me perguntou quantas vezes por dia eu pensava nele. Fiz cara de paisagem e disse, lamuriosamente: “Toda hora.” Ela suspirou e mudou de assunto. Realmente de nada adiantava me massacrar com sermões. Sentimentos aqui quando chegam, grudam por um bom tempo. Ela disse que Aquele Cara estava atravessando a rua enquanto eu mexia no celular. De repente, senti frio. Na verdade, gelei. Uma menina na mesa ao lado levantou correndo e se pendurou no pescoço dele. Me deu enjôo. Saíram andando para o lado contrário e fiquei pensando que ele nem me enxergou. Nesse dia cheguei em casa totalmente embriagada. Chorei até cair no sono. E nunca mais pensei nAquele Cara. Nunca mais o vi também.


quinta-feira, 10 de maio de 2012

Promessas vãs ou A Falta de uma UTI Exclusiva para Doença Coronária Crônica



Cansada de tanto lero lero soltou um grito a plenos pulmões, desligou o telefone e foi chorar. Lembrou do ditado popular, “vai chorar na cama que é lugar quente” e foi. Lá ficou, exausta, até adormecer. Levantou na hora do encontro marcado.


O assunto não desviava do problema. Estava muito cansada para lutar contra a necessidade de falar sobre o que não queria. Teria que gastar as cordas vocais já exauridas de tanto viver. Toda vez que a vida lhe oferecia desafios, dava a outra face e perdia a voz.


Enquanto chorava, chovia. Era sempre assim. Nos momentos de maior inquietação o céu sempre jorrava junto com ela. Mas dessa vez não estava tão frio. Gostava mais de si mesma, palpitou.


E então rolou e rolou na cama até sentir fome. Levanto-se e preparou uma torrada. Isso daria conta, pensou. Mas não deu. O sono não vinha e ficava pensando nas palavras do guru. Estava um pouco cansada de palavras.


- “Vai acontecer o que for melhor para você.” 


Promessas quebradas são como um pequeno enfarte. Uma angústia feito angina do peito, mas que não tem terapia intensiva que dê jeito.


Para a  seleção da Oficina Compartilhada

Luto ou Melancolia?




Silvia não viveu o luto. Viveu melancolia. Não sofreu a perda do homem amado; perdeu tudo o que ele também representava e trazia para sua vida. O luto, diferente da melancolia, é respeitado pela sociedade porque é tido como passageiro, dizia sua mãe psiquiatra. É um mal necessário para nos desligarmos do que não fará mais parte de nós.

Seu amor era infinito e sem medidas. Passava dias se isolando, marcando encontros secretos com amantes do passado em seus pensamentos. Na tentativa vã de fugir do sofrimento.

- Como amei!, pensava.
- Como ainda amo! sofria...

Dizem que o amor dura para sempre. Eu ainda amo muito e ao repetir isso no escuro meus olhos ficam molhados. Por que não te esqueço? Superei, eu sei. Mas por que dia e noite você invade meus pensamentos e sonhos? Será que você pensa em mim de forma serena? Será que eu ainda habito seus sonhos? Você tem raiva? Deseja voltar atrás? Mudar o que vivemos? Não viver o que aprendemos?

E assim Silvia preenchia seus dias melancólicos, pensando e repensando seus amores passados. E quanto mais o fazia, mais se afundava na melancolia.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

De mansinho?





Começou como intuição. Ela apenas sabia. Um olhar apenas e... Boom!! No momento seguinte estava acordando e dormindo pensando nele. No olhar dele. Nas mãos dele. No corpo, no cheiro, no gosto... Nele. Tinha mãos mágicas. E a vida marcada. Como todas as outras, mas diferente. Não tinha urgência. Era contente.