Aquele que procura faíscas...

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Menina Rendada



Garota rendada

Cheia de rococó

Coisa mais linda

Amiga, irmã, mãe, avó

Te amo menina

Mulher

Não perca a cabeça

Você adoça o mundo

Ame

E quando ficar pesado

Esqueça

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Tomorrow is a long time ago

Não dá para comparar a dor do presente com um passado embolorado, cada vez mais distante. Os dias passam e as memórias doídas ficam trancadas em seus porões mal cheirosos, cheios de teias de aranha. As histórias ruins viram conselhos que nunca serão acatados; sugestões que serão ignoradas; avisos em vão. As palavras ásperas se perdem nas brumas do tempo e tudo o que um dia foi ruim, fétido e dolorido vira lenda.

O Segredo

Pascoal não tinha medo de nada. E pensava que no fundo era mesmo um sortudo. Sua vida parecia uma sucessão de felizes coincidências. Nunca lhe faltara nada. Casa, comida, amor... Tinha tudo de sobra: conforto, boa gastronomia, sexo apaixonado. “Vida boa essa.”, pensava alto toda vez que dava uma topada e achava que não merecia.

Mas acontece que a vida nunca é 100% boa. Tem sempre que haver alguma coisa a incomodar, algum problema, mesmo que você seja um otimista por Natureza, como o amigo aqui em questão. Nem aplicando a baboseira do “O Segredo” tem-se uma vida livre de percalços. Talvez essa teoria tenha começado com um cara como o Pascoal.

Otimista o suficiente para reclamar apenas de topadas, egocêntrico o suficiente para transformar isso em teoria e suficientemente inteligente para capitalizar em cima da tremenda estupidez que é a ignorância humana. Viva o Pascoal!



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O podrão da praça


“Tomara que ela tome conta dele na velhice…” Pensava Cristina, enquanto comia um Chernobyl na Praça São Salvador, no Flamengo, Rio de Janeiro. Era assim que ela e os amigos chamavam a Kombi que lá pelas tantas cheirava a carne queimada, torrando bacon e cheeseburgers na madrugada. Depois de tanta birita, só Chernobyl salva.

Tudo começou durante o jantar. Mas desta vez Cristina ficou surpresa. De verdade. Para seu espanto o pai não falou de Gabriela, aquela por quem havia trocado sua família anos atrás. Hoje, já mais madura, ela nem a culpava. O pai, sim, era um vida torta. E talvez ficar com Gabi tenha sido a coisa mais sensata que ele tenha feito. “Pena que tenha cagado no pau antes, durante e depois, o que não sustenta nenhum relacionamento decente.”, refletiu, ao tirar da boca um pedaço de nervo da carne de quinta.

Gabi era 15 anos mais nova, mas muito inteligente e na época do affair já caminhava para ser independente. Homem não dava nó de marinheiro nela. Só nozinho comum, daqueles bobos, e mesmo assim porque ela deixava. Enfim, a história não é sobre Gabriela, é sobre Cristina, aquela que não vai colocar o babador no velho quando ele não puder mais comer sozinho.

Tem gente que fica tão viciada em si mesma que não consegue se reinventar. Então a solução é partir para a troca externa. Que também não é oxigenada. Troca-se um exemplar melhor por um outro pior. E cada vez pior, pior, pior. Isso porque se você não amadurece, não cresce, não atrai quem te empurre para cima. O treco desanda mesmo é ladeira abaixo. E o que sobra é um velho babão. Uma pena. Enfim. Vamos lá. Foco.

Então... O pai de Cristina é o velho babão da vida dela. Com a sorte de ter nascido bonito e talentoso, apesar de mau caráter. Sua vida sempre fora boa e nunca tivera medo de nada. Falta de medo essa que passou para a mãe da Cris, que vivia de pensão e se orgulhava de, pelo menos, ter se casado com um ‘nunca-será-pobre’ - como ela gostava de dizer quando ficava desesperada por conta de sua falta de iniciativa e habilidades práticas.

“O mau caráter e a sanguessuga...”, a frase ecoava, enquanto mais uma mordida levava bacon crocante para dentro sua mastigante boca. Cris os amava, claro, mas não a ponto de perder o bom senso. E também não o perdia agora, comendo um ‘x-burgue’ duplo com bastante maionese depois de ter jantado com o pai. Já eram 3:30 e o tal jantar durou exatos 50 minutos, tendo começado às 21:45. Era assim sua vida com ele. Cronometrada.

Encontraram-se na porta do prédio dela, às 21:15. E desta vez o motorista não foi buscar, como das últimas outras recentes. Depois que ele não deu certo com a Gabi, mudou-se para bem perto da família; e como uma forma de resgate, buscava ele próprio tanto ela quanto a irmã mais nova em ocasiões como essas. Como se fizesse alguma diferença... Enfim. Foco.

Às 21:20 estavam sentados no preferido pequeno restaurante do lado norte da Zona Sul carioca. Preferido do pai. Ele era conhecido e sabia que o serviço seria rápido. Em menos de 20 minutos pratos servidos e já enquanto todos ainda terminavam a refeição ele pedia a conta, ‘para ir adiantando’. Às 22: 35 pai e filha se despediam, sem muito calor no abraço curto. Não se importaram nem com a sobremesa.

E o assunto não passou nem por um momento pela Gabi. O babão havia finalmente eleito mais uma mulher para a vida dele. A segunda depois de sua mãe. E pelo visto importara do Sertão Nordestino. Preconceitos a parte, parecia mais uma das namoradinhas de bordel com quem ele circulava, só que desta vez ele pagou passagem e enfiou a mocinha com corpo de criança e cara marcada pelos mal tratos da pouca vida dentro de sua própria casa.

Ela até que não era feia – haviam se encontrado umas duas ou três vezes no Aterro do Flamengo, onde o pai tentava andar de bicicleta todos os domingos e em seguida almoçar no Porção Rio’s. O almoço acontecia mais frequentemente do que as pedaladas – efeito da ressaca acachapante. E na última vez ela, que se chamava Ana Rosa, havia clareado as madeixas, o que suavizou bastante sua expressão. Os cabelos ‘asa de graúna’ deram lugar a uma tonalidade loira amendoada.

O pai inventara o jantar para dizer às filhas que se uniria oficialmente à namorada. E por tê-lo feito de última hora – talvez pelo fato de querer tirar logo a decisão da cabeça para poder dormir melhor – sua irmã mais nova não pôde comparecer: era formatura do namorado. E ele, que já não tinha paciência para administrar as agendas, decidiu jantar somente com ela (“Pro Diabo sua irmã e seus compromissos!”, esbravejava o caloroso pai.).

O que ele queria que ela dissesse? Por acaso estava querendo aprovação? Depois de tantas burradas ele se importaria em ouvir o que ela tinha a dizer? Cristina tinha pena. Em diversas conversas familiares ele deixou escapar que achava que filho homem não cuida dos pais na velhice – e para corroborar sua suspeita, recentemente um de seus primos havia enfiado a mãe enferma em um asilo.

E assim, mesmo tendo duas meninas, por causa das suas trapalhadas e falta de dedicação à família, o medo de ficar sozinho crescia aos galopes. Obviamente. Já ultrapassava dos 50 anos e sua saúde dava sinais de fraqueza, pelos excessos cometidos desde a adolescência. Então, arrumou uma companheira jovem o suficiente para o divertir, burra o suficiente para não discutir e pobre o suficiente para se deslumbrar. Sua aposentadoria estava garantida, e Cris não dava a mínima, tinha sua própria vida para se preocupar.

E assim, dando a última mordida no Chernobyl, pediu mais uma latinha de cerveja e acenou para o ‘Seu’ Adão, dono da Kombi, com quem ela já tinha uma conta aberta. Já passava das 4:00 e no dia seguinte ela marcou um picnic etílico com os amigos nos Jardins do MAM.

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segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Até breve!


Foram tantas as despedidas que já nem sofria mais. O coração apertava, naturalmente. Era emotiva, passional e visceral. Mas de tanto abandonar e ser abandonada havia criado uma certa couraça que a deixava forte no momento do adeus. As lágrimas pesadas que antes denunciavam seus sentimentos íntimos e profundos deram lugar à um leve lacrimejar. Um misto de preocupação e dor, pensava, enquanto caminhava lentamente rumo à mais um desafio.



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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Cortiço

A vida da pobre coitada mais parecia uma novela de quinta, daquelas bem mexicanas. Divorciada antes dos trinta e com um filho no currículo, caminhava para mais um casamento atrapalhado, enfiando outro rebento goela abaixo da próxima vítima. Em pleno século XXI e ainda não conhecia o que era independência, escolha, planejamento e respeito. Estava grudada na Idade Média, vivendo de impulsos e Bolsa Família.

A política nunca lhe interessara e se valia de afirmações infantis sobre a inutilidade do voto. Para ela qualquer responsabilidade era inútil e pelo visto tratava o seu útero com o mesmo tipo de respeito. Respeito esse que refletia muito mais na vida dos companheiros de habitat do que em sua própria existência. Aliás, boa pergunta seria essa. Será que ela existe, ou apenas coexiste em sua sucessão de trapalhadas?

Contas a pagar, insatisfação pessoal, falta de cultura e ignorância pontuavam os anos que escorriam por entre suas mão inábeis. A falta de ambição beirava a estupidez. E o ponto alto das conversas era quando concordava com o interlocutor. Assim, escondia-se atrás da sua insegurança. A mentalidade era tão infantil que sequer sustentava qualquer discussão. Encerrava os embates aos gritos para não ter que ouvir a si própria.

E assim, divertia os que acompanhavam a problemática diariamente. E eles o faziam porque era mais fácil do que lidar com suas próprias vidas. O drama alheio anestesia e não engorda...

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